domingo, 15 de abril de 2012

O ADEUS DO PÁSSARO


Amanhecer de um dia esplendoroso. Raios de sol iguais aos daquela manhã nunca haviam batizado com tanto afago a terra, as árvores, as águas com seus deslumbrantes reflexos. Neste cenário mágico, o pobre carpinteiro olhou para seu coleiro, preso em uma pequenina gailoa e o impulso de soltá-lo veio. O pássaro ao ver sua atitude, com a portilha de sua cela aberta, paralisou-se:
- Por que esta atitude homem? Está certo do que está prestes a acontecer?
- É melhor não pensar em nada. Ter como definitiva a decisão que tomei.
- Sim. Será definitiva. Levantarei voo. A liberdade é meu sonho e tê-la será como voltar a ser o que eu era. Um ser da natureza, do mundo.
- Olha, sem mais delongas. Segue seu rumo. Eu te deixo ir. Só me promete que me visita.
- Isso eu não posso prometer. Vou voltar as minhas origens, ser livre e você sabe que a natureza nos impõe desafios, nos toma tempo para a sobrevivência. Talvez não me veja nunca mais.
O carpinteiro parou por alguns segundos e disse:
- Meu humilde consolo é que você, além de não estar mais preso a um lugar que não quer ficar e que não foi feito pra você, é que não viverá mais sobre as minhas leis. A lei do homem.
O coleiro com um olhar entristecido disse então:
- Você, meu amigo, que me cativou por todo esse tempo, não vive a lei dos homens e sim a graça divina.
- Pode ser mais claro? - indagou o outro.
- Tive contigo o que comer, beber, o seu sorriso com o meu cantar, nossas conversas a cada manhã. Antes de tudo somos amigos. Por isso, te conheço como poucos. Sei que desde quando me colocou neste pequeno espaço tinha uma vocação incondicional comigo. A prova que tens a graça é esse gesto de me ver livre. Você não sucumbiu ao simples bel-prazer de ter-me apenas para aprisionar-me, e sim ama-me. Esta portilha aberta é o significado do seu amor, de como lhe agustiava ver-me aqui sem vida. Esta é a sua graça.
- Como viverei sem ter o seu bom dia em meus ouvidos? - disse em lágrimas o carpinteiro.
- Não chora por isso. Poupe suas lágrimas, Virão muitas delas pela frente. Lembre-se apenas que o homem que tem em si o poder da graça divina nunca sucumbirá, pois é resistente, fortifica-se no amor e não em ordens e mandados impostos por disciplinas criadas por vocês, homens.
- Adeus. Seja livre e leve um pouco de mim contigo. Esse meu último pedido é uma escolha sua - suplicou o sujeito.
- Eu sei que é. O ser gracioso em seu interior não pede respostas. Faz o que lhe é devido e só. Adeus.- o o.pássaro.

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